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Coleção Ricon Peres/Listas do MUD
Os sete dossiers contêm um total de 2.605 listas numeradas, integrando 57.131 assinaturas de quantos assim manifestaram a sua adesão às resoluções aprovadas na sessão pública realizada no Centro Escolar Republicano Almirante Reis, em Lisboa, a 8 de Outubro de 1945, em que foi criado o Movimento de Unidade Democrática (MUD).
Os dossiers com as listas foram entregues ao Ministério do Interior no início de Novembro de 1945, na sequência da abertura de um processo de inquérito sob o argumento de verificação da legalidade das assinaturas. Entregues à PIDE, os dados constantes de cada signatário foram integralmente copiados, dando origem à criação de fichas individuais.
É claramente visível nestas listas os indícios do labor e cuidado dos funcionários da PIDE na análise e recolha dos dados. Todas elas se encontram carimbadas com a indicação “Fichas Feitas”, estão numeradas sequencialmente e possuem a indicação do número de assinaturas em cada uma. Na maior parte dos casos é ainda identificável a rubrica do funcionário da PIDE a quem foi incumbida a tarefa de registo. Destaque-se ainda alguns pormenores do trabalho efetuado como sejam os pontos de interrogação em casos de dúvida, e, particularmente, os sublinhados que foram feitos colocando em destaque determinadas categorias socioprofissionais e pessoas que suscitavam uma maior atenção para a vigilância policial.
Além das Listas do MUD, fazem ainda parte do acervo alguns comunicados do movimento entre finais de 1945 e 1947, designadamente da sua Comissão Central.

Nota biográfica/Institucional
Em 22 de setembro de 1945, o Ministério do Interior promulga o Decreto-Lei nº 34.938 no qual estabelece os requisitos de elegibilidade dos candidatos à Assembleia Nacional e regula o exercício do direito eleitoral, com vista às eleições que se viriam a realizar em novembro do mesmo ano. Poucos dias depois, um grupo de oposicionistas, solicita ao Governador Civil de Lisboa autorização para levar a efeito uma reunião em Lisboa, no Centro Almirante Reis, com o objetivo de discutir a nova lei eleitoral e de decidir o concurso da oposição às eleições. Faziam parte deste grupo José de Magalhães Godinho, Teófilo Carvalho dos Santos, Armando Adão e Silva, Gustavo Soromenho, Manuel Catarino Duarte, Manuel Mendes, Guilherme Canas Pereira, Afonso Costa (filho), Luís da Câmara Reys, Alberto Candeias e Mário de Lima Alves.
A realização da reunião é autorizada a 6 de outubro e decorrerá no dia 8, no Centro Almirante Reis, sendo presidida por Barbosa de Magalhães, antigo ministro da I República e professor demitido da Faculdade de Direito de Lisboa, ladeado por Teófílo Carvalho Santos e Afonso Costa (filho). Em discurso perante a assistência, Mário de Lima Alves apresenta, em nome da Oposição, uma extensa reclamação ao Governo. No final, Fernando Mayer Garção propôs que todos os presentes se solidarizassem com os promotores da sessão e subscrevessem, igualmente, o discurso que acabava de ser lido. A proposta foi aprovada por aclamação. Era o início do MUD e das suas "célebres" listas de adesão.
Entretanto, por todo o país, oposicionistas organizam-se em comissões distritais para proceder à recolha de listas de adesão e realizam reuniões públicas de carácter político. A adesão aos princípios formulados na reunião de 8 de outubro foi massiva, logo desde o início. O MUD realiza uma conferência de imprensa, em 24 de outubro, onde Lima Alves afirma, perante representantes de todos os jornais de Lisboa e Porto, e de agências noticiosas estrangeiras, que, àquela data, se tinha procedido à recolha de 2.149 listas, que continham 50.145 assinaturas. Nesta data, as listas recolhidas enchiam já cinco dossiers, claramente visíveis em algumas fotografias da época que registaram o acontecimento. Nos dias seguintes, mais listas de assinaturas continuariam a chegar à Comissão Central do MUD, e a divulgação das adesões teria ampla publicidade no jornal República e na Seara Nova.
A 25 de outubro, o Ministério do Interior divulga uma nota oficiosa informando da abertura de um inquérito ao processo de legalidade de recolha das assinaturas das listas.
Ainda se debate, no seio do MUD, se se deveria ou não entregar as listas, mas, no início de novembro, logo nos dias 1 ou 2 (as fontes da época não são precisas quanto à data), elementos da Comissão Central do MUD entregam à Comissão de Inquérito as listas dos aderentes recolhidas em Lisboa. No entanto, grande parte das restantes comissões ao nível distrital recusou proceder a esta entrega, nomeadamente a delegação do Porto que chegou a emitir um comunicado estabelecendo condições para a aceitação do inquérito.
Quando as eleições para a Assembleia Nacional se realizam, a 18 de novembro, a União Nacional elege os seus 120 candidatos. A oposição abstém-se de participar no ato eleitoral. Apesar do resultado das eleições, o MUD continuará a sua atividade, desenvolvendo a sua estrutura ao nível regional, local e sectorial, sendo de destacar, no ano seguinte, a constituição do MUD Juvenil, e mobilizando a opinião pública em torno de questões políticas relevantes, como seja a da recusa da admissão de Portugal na ONU em 1946. O governo de Salazar moveria entre 1946 e 1947 uma perseguição aos aderentes do MUD e do MUD Juvenil, que passou mesmo pela prisão de vários dos seus membros e despedimento de figuras de relevo como foi o caso de Bento de Jesus Caraça, demitido da cátedra universitária.
Em 1948 o MUD é ilegalizado pelo governo, o que não impediu que vários dos seus membros participassem de forma ativa no apoio à candidatura de Norton de Matos à Presidência da República.

Dimensão
8 unidades de instalação

Estado de Tratamento
Integralmente tratado