O arquivo de Jaime de Morais é constituído por documentação que ilustra o seu percurso pessoal e as atividades que desempenhou no âmbito militar e político, bem como a sua produção intelectual, muito embora nem todas estejam cobertas pela documentação, sendo percetíveis diversas lacunas.
Abrange diversas fases da vida de Jaime de Morais, desde o início da sua carreira na Armada até aos sucessivos exílios, na oposição ao regime do Estado Novo, ilustrando os documentos as suas estadias como exilado político, em Espanha, Bélgica, França e, especialmente, no Brasil, onde viveu desde os anos 40 até à sua morte, em 1973.
Contém um conjunto de documentação relacionada com as suas tentativas de obter a reintegração e reforma na Marinha, de onde foi demitido na sequência da participação no movimento revolucionário de fevereiro de 1927, e alguns documentos pessoais, como a certidão de casamento, o diploma da Ordem Militar de Cristo (com a qual foi agraciado em 1925), certificados de registo criminal e de inscrição no Consulado de Portugal no Rio de Janeiro, entre outros.
A correspondência constituiu um dos núcleos mais relevantes, espelhando as relações de amizade e os contactos estabelecidos por Jaime de Morais no contexto profissional (caso da correspondência estabelecida no Brasil relativa aos negócios da Covibra, onde trabalhou), mas em particular a sua faceta de opositor ao regime de Salazar, que o levou a corresponder-se com diversas personalidades, algumas das quais exiladas no Brasil, como é o caso de Sarmento Pimentel ou de Humberto Delgado.
O arquivo inclui igualmente numerosos artigos da autoria de Jaime de Morais, na maior parte datiloscritos com emendas manuscritas, alguns acompanhados do recorte do jornal onde foram publicados, maioritariamente do período do exílio brasileiro. Uma parte destes artigos são sobre Angola, incluem mapas desenhados e coloridos à mão e registos etnográficos.
A coleção de fotografias ilustra em particular a sua passagem por África, no início da sua carreira, incluindo o serviço prestado na Divisão Naval do Atlântico Sul e, sobretudo, os anos em que esteve em Angola. Existem igualmente imagens de diversas outras colónias (Cabo Verde, S. Tomé, Moçambique e Goa) numa coleção de bilhetes postais ilustrados.
Entre as fotografias contam-se ainda alguns retratos de Jaime de Morais, fotografias de família e de amigos.
Os documentos de data posterior ao falecimento de Jaime de Morais, que se encontravam junto com o seu arquivo, dizem respeito a correspondência recebida pela família por ocasião do seu falecimento (condolências) e ainda a um conjunto de cartas e apontamentos diversos do seu filho Óscar de Morais, que durante algum tempo se encarregou da organização do acervo.
Fundação Mário Soares e Maria BarrosoMédico, militar, político e jornalista.
Jaime de Morais nasceu em Chacim, Macedo de Cavaleiros, a 13 de julho de 1882. Concluiu o curso de Medicina no Porto (1904). Foi médico e oficial da Armada, onde atingiu o posto de capitão-tenente em 1917. Participou na revolução de 5 de Outubro de 1910.
Entre 1906 e 1910 esteve destacado na divisão naval do Atlântico Sul e, em 1908, na estação naval da Guiné, durante a campanha contra os Biafadas e os Papéis de Bissau.
Desempenhou os cargos de secretário geral do Governo da Província de Angola (janeiro de 1911 a fevereiro de 1912), governador do Distrito do Congo (janeiro de 1914) e governador-geral interino de Angola (1917). Como militar distinguiu-se no comando das campanhas de pacificação e ocupação de território nos distritos do Cuanza e Malanje. Participou na construção do Caminho de Ferro de Ambaca.
Em 1919 combateu, em Chaves, a Monarquia do Norte.
Foi governador-geral da Índia entre 1919 e 1925.
Foi um dos líderes da revolução do 3 de Fevereiro de 1927 no Porto, o que lhe valeu no ano seguinte a demissão da Armada e a deportação para São Tomé, de onde escapou rumo a Paris.
A proclamação da II República em Espanha levou-o a Madrid onde constituiu, com Jaime Cortesão e Moura Pinto, o grupo revolucionário “Budas”. Subscreveu juntamente com outros exilados, em novembro de 1936, um manifesto de solidariedade para com a República espanhola, em plena guerra civil, demarcando-se assim do governo salazarista.
Circulou entre Madrid e Paris em reuniões que precederam a criação da Frente Popular Portuguesa. Foi repórter do jornal UNIR da Frente de Portugueses Exilados, em Barcelona. Ao mesmo tempo foi contactando com grupos militares e civis revolucionários portugueses. Após a derrota dos republicanos em Espanha (que arrastou consigo o apoio ao plano de invasão de Portugal, conhecido como Plano L), foi internado num campo de concentração espanhol. Conseguiu porém libertar-se e refugiar-se na Bélgica, onde ainda não era procurado pelas autoridades.
Preso em Vilar Formoso (1940) e expulso do território nacional exilou-se no Brasil, onde prosseguiu a campanha contra a ditadura de Salazar.
Morreu em Niterói, a 20 de dezembro de 1973.
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